terça-feira, 11 de setembro de 2012

Universidade na Pesquisa/




A lógica da pesquisa na

O 1º Encontro Preparatório para o Fórum Mundial de Ciência que acontecerá em 2013 reuniu cientistas de todo o país durante três dias na cidade de São Paulo. O tema "Ciência para o Desenvolvimento Global: da educação para a inovação - construindo as bases para a cidadania e o desenvolvimento sustentável" orientou as apresentações.

Palestrantes de grande mérito científico compartilharam as experiências que acumularam em diversos ramos da ciência até o presente e apresentaram práticas inovadoras para o futuro. Um das palestras foi "A lógica da pesquisa na universidade", proferida pelo vice-presidente da ABC Hernan Guralnik Chaimovich, bioquímico da USP e coordenador dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid's) da Fapesp, muito atuante na política científica internacional.

O crescimento da ciência brasileira

Analisando dados referentes às publicações científicas brasileiras, Chaimovich observou que as nossas universidades estão em transição, "em busca de interdisciplinaridade, se forem observadas pelo viés científico, e de inter-relacionamento, se forem observadas pelo viés institucional", afirmou. Os recursos destinados à pesquisa científica no país nos últimos anos seriam inimagináveis há algumas décadas e causaram impactos imediatos, aumentando o número de publicações e de pós-graduados nas diversas áreas da ciência. Também possibilitaram a ampliação da cooperação internacional, permitindo que mais cientistas brasileiros e estrangeiros trabalhassem em conjunto. Por outro lado, os benefícios do financiamento público também trouxeram responsabilidades sobre sua utilização e distribuição.

Com o significativo avanço dos últimos anos, hoje o Brasil ocupa um lugar expressivo na ciência mundial: é o 13º país no ranking mundial de publicações científicas. E que lugar é este? O número de artigos científicos publicados no país, que era de 5.212 em 1994, deu um salto para 34.210 em 2011. "O índice de impacto, no entanto, passou de 0,64 para 0,65 apenas", observou Chaimovich - o que evidencia que "crescimento" nem sempre significa "desenvolvimento". As áreas são diversificadas, abrangendo geografia, saúde, natureza, tecnologia, embora a escolha dos temas, de acordo com Chaimovich, seja mediada por uma demanda internacional. "Há temas nacionais de interesse mundial e a Amazônia é o maior exemplo, seguido pela doença de Chagas e a cana-de-açúcar", destacou o palestrante. "Contribuir para o conhecimento universal faz os brasileiros mais capazes de determinar seu próprio destino, pois é na ciência que estão as bases do desenvolvimento e da riqueza. E hoje, no Brasil, este esforço está mais concentrado nas universidades do que na indústria ou no setor privado"

Desigualdades entre as regiões e entre os níveis de escolaridade

Chaimovich destacou que o conhecimento produzido no país, no entanto, está atualmente concentrado em algumas universidades brasileiras - apenas sete delas concentram mais de 60% das publicações científicas do país nos últimos anos. A Universidade de São Paulo (USP), Universidade do Estado de São Paulo (Unesp), Universidade de Campinas (Unicamp), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade de Minas Gerais (UFMG) e Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) produziram 50% e 60% das pesquisas publicadas em 2005 e 2009, respectivamente. O nível de investimento também é desigual, estando concentrado na região Sudeste.

A palestra foi permeada de reflexões sobre a educação para ciência. Chaimovich observou um conjunto de características comuns entre os sistemas educacionais de outros países que podem ser uma fórmula de sucesso. "A ciência avança nos centros de pesquisa. Todavia, ela já deve estar à vista no horizonte desde os primeiro anos da formação escolar", ressaltou.

Universidades de excelência em padrão mundial: uma meta a alcançar

Para Chaimovich, o sistema de ensino superior deve abranger as universidades de pesquisa, mas não apenas elas: são necessárias também as universidades técnicas, as escolas de formação de professores de educação infantil, instituições de educação à distância, enfim, outras estruturas que atendam às demandas sociais e econômicas. "Esta é uma estratégia que permitiu, em muitos países, a garantia de educação superior para todos os jovens. Em um sistema, todas as peças têm a mesma importância", afirmou o palestrante.

No Brasil, no entanto, a universidade de pesquisa ainda não é uma realidade frequente. "Esse conceito se caracteriza pela excelência em pesquisa, pela liberdade acadêmica e por um ambiente intelectualmente estimulante. E ainda pela infraestrutura adequada para apoiar a pesquisa e o ensino e as outras funções acadêmicas, de forma consistente e em longo prazo", destacou Chaimovich."E deve investir em educação geral e cultura, para formar cidadãos capazes de entender o que está ocorrendo no país e no mundo."

Ele apontou ainda a liderança acadêmica em todos os níveis e a governança como questões fundamentais para uma universidade de pesquisa. Com relação à governança, os pontos fundamentais apontados por Chaimovich foram a distribuição de autoridade e funções a várias unidades, as formas de comunicação e controle entre elas e o relacionamento entre a entidade e seu entorno. "Tradicionalmente, as universidades de pesquisa tem controle sobre todos os elementos centrais da vida acadêmica, como o processo de admissão de estudantes, o currículo, os critérios de promoção, a seleção de funcionários e orientação estratégica do trabalho da instituição", declarou.

Tensões no ambiente universitário brasileiro

As universidades públicas brasileiras, no entanto, estão passando por mudanças que nem sempre apontam para este caminho. Segundo o palestrante, o governo pressiona para que elas continuem a treinar profissionais, professores, técnicos, professores e pesquisadores; para que desenvolva toda a pesquisa básica; para que corresponda às demandas sociais, econômicas e industriais e, ainda, para que amplie o número de matrículas. Esse sistema, na visão de Chaimovich, dificulta que as universidades de pesquisa cumpram sua função primordial: contribuir para a pesquisa básica e para a reflexão crítica desinteressada. "Como manter o equilíbrio entre pesquisa, educação, treinamento e transferência de tecnologia?"

Concluindo, o vice-presidente da ABC acentuou a necessidade de que o impacto da ciência brasileira aumente, assim como o número de cientistas. "Para crescer com qualidade, a governança nas universidades tem que ser acadêmica, há que se investir em internacionalização e programas de cooperação e a ciência produzida tem que estar relacionada às fronteiras em interseção com as prioridades estratégicas do país.

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